quinta-feira, maio 17, 2007

Budapeste...

Ainda não tinha lido duas páginas e já tinha decidido que não ia gostar dele. Os olhos enrolavam-se naquelas palavras escritas em Português do Brasil. Metrô, freqüento, tevê, secretária eletrônica, tudo palavras que me picavam, que me cutucavam como dizem eles. Gosto de sotaques, por causa dos trejeitos musicais que lhes descubro. Adoro a música que os brasileiros incutiram no nosso linguajar. A maneira como as palavras dançam até chegar aos nossos ouvidos. A forma como sambam livres. Mas ler as mesmas palavras, na nossa falta de musicalidade, é para mim um sacríficio. Puxei os galões à teimosia e decidi acabá-lo de um trago. Realmente acabei-o quase de uma assentada, mas não porque quis terminar o suplício e deixá-lo no passado. A verdade é que fui completamente enleada na história. Na trama. Às tantas, já não tropeçava em metrô, freqüento, tevê, secretária eletrônica, nas páginas que virava sem descanso. Umas folhas depois, e já no meu cérebro as palavras dançavam ao ritmo carioca. Os meus pensamentos fluiam na sonoridade do país irmão, e juro, que se me interpolassem no meio da leitura o mais certo era responder com um Oi cara! Tudo êm cima?! Acabei a gostar e muito. Especialmente do nunca conseguir adivinhar o que está na página a seguir. Do imaginar múltiplos finais igualmente bons e que me satisfariam, e, acabar por ser surpreendida com um que nunca adivinhei, que assentava que nem uma luva como final de páginas e páginas que se sucediam, não por estarem unidas e numeradas, mas porque é assim que se vive a vida.

14 comentários:

Miragem disse...

Eu adoro quando os livros me conquistam assim!!!

Mocas disse...

oh, não fui a primeira :(

pois que me deste uma enorme vontade de ir comprar!! do Jorge Amado li todos e adorei cada um ... e alguns têm uma linguagem quase hermética, principalmente aqueles cuja acção se desenvolve na Baía.

obrigada pela dica :)

Sandra B. N. disse...

ofereceram-me esse livro há uns tempos e eu pensei "brasileiro?hmmmm... não me cheira que eu vá conseguir ler isto"
li de uma ponta à outra em poucas horas e adorei :)

Margarida Atheling disse...

Escreveste tão bem... que fiquei tentada! :))

Bjs!

T disse...

Confesso que esse livro n me convenceu... Já estive tentada a comprar o Estorvo ou a reler o Budapeste para tirar essa impressão da 1.ª leitura, mas ainda n tive pachorra...
(Já leste a Laranja Mecânica? Isso é que é também tropeçar em linguagem, e mt ;-P)

Alda Benamor disse...

Foi precisamente pelo que descreves no início do texto que não tive coragem de o ler... e ainda não arranjei coragem para o fazer...

Mamã artesã disse...

Já me actualizei no teu cantinho mas, por falta de tempo e porque quero fazer mais umas visitas, não vou comentar nada.
É só para saberes que passei por cá.
Joquinhas
Sofia

anaipc disse...

Fiquei com a pulga atrás da orelha!

Há-de ser um dos próximos...

:*

Anónimo disse...

Gostei desse desamor à primeira vista,que depois vira paixão!

Uma boa sugestão para suceder ao meu, quase no fim, "cemitério de pianos"!

;)

InêsN disse...

olha que bom :)

é que me aconteceu exactamente o mesmo há mais de 1 ano mas eu não o continuei a ler...vou buscá-lo à estante para ser o meu próximo companheiro de transportes!

rosinha_dos_limoes disse...

Mais um para a minha lista!

Ana F. disse...

Pois, isso do sotaque brasileiro é que me desmotiva...

Eva Lima disse...

A mim cativou-me ligo nas 1ªs páginas.

Clara disse...

é giríssimo, o livro. Os do Jorge Amado tb, mas infinitamente mais difíceis de ler. Pior do que os da Baía são os passados no interior do Brasil (quase uma outra língua mesmo).