quarta-feira, maio 18, 2005
A minha mãe...
"Quando fores mãe vais compreender." Muitas foram as vezes que eu ouvi da boca dela estas palavras. Muitas também foram as vezes que eu pensei logo a seguir "Quando for mãe não quero ser como tu."
E aqui estou eu hoje, mãe de alguém.
Não demorou muito a dar a mão à palmatória para perceber que ela tinha razão. Aliás foi no dia em que a Joana nasceu que percebi o significado dessas palavras. Foi nesse próprio dia que percebi algumas das atitudes da minha mãe. Foi no instante em que percebi que pensei "Espero ser uma mãe diferente, mas tão boa quanto a minha."
Eu sou a filha mais velha, e como tal todos esperavam que eu desse o exemplo para os mais novos, ajudasse os mais novos, fosse a irmã responsável, a irmã-mãe. Eu sentia-me às vezes abafada por tal responsabilidade. Não tinha a autorização para fazer os mesmos disparates que eles. Quando algo corria mal eu tinha a maior parte das culpas porque era a mais velha. É essa forma de agir que eu não quero, se conseguir, copiar no meu papel de mãe. Mas deve ser a única.
A minha mãe, era mãe de três filhos, dona de casa, trabalhava 9 horas por dia, fora as vezes que trabalhava em casa para ganhar mais uns trocados. Fazia tudo em casa com a ajuda muito forçada da minha pessoa. Fazia a nossa roupa, tratava das nossas vaidades. Repetia o milagre da multiplicação com o dinheiro mensal que já era esticado ao máximo para nos satisfazer os nossos pequenos desejos.
A minha mãe não era muito paciente e por vezes paciente demais. Eu também. A minha mãe explodia pela mínima coisa e tinha uma resistência de guerreiro aos grandes dilemas. Idem. Eu e a minha mãe discutíamos por tudo e por nada. Porque éramos iguais. Dizia-lhe sempre "Só nos vamos dar bem quando viver fora de casa.". Não o pude provar.
Vejo agora na minha mãe, a minha mãe. Não aquela chata que me impedia de fazer tudo o que eu queria. Que dizia que lavar a loiça incluía limpar o fogão, a bancada, varrer e lavar o chão. Que me fazia a vida negra quando eu pisava o risco. que não descansou enquanto eu não soubesse fazer tudo em casa, inclusive as bainhas das calças e apertar os respectivos cós.
Sinto agora falta dela. Mas quantas vezes na minha relação com a minha própria filha a revejo. E isso consola-me. Penso, "afinal ela está aqui comigo...". Continua-me a guiar com a sua mão de mãe sempre que eu necessito. E fico feliz. Porque agora já entendo o que dantes não percebia. E agora sei, que uma Mãe nunca abandona um filho. Basta fecharmos os olhos e vermos com olhos de ver. Sempre que for preciso a nossa mãe está lá.
Se a minha mãe ainda estivesse aqui, fazia hoje anos.
Se a minha mãe ainda estivesse aqui, podia dizer-lhe isto.
Podia, mas não era preciso. Porque ela já sabia que eu iria perceber um dia.
Parabéns mãe.
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