quarta-feira, novembro 09, 2005

Parto

Já tinha feito o relato aqui, numa versão soft. Agora, deixo também aqui registado (quase na íntegra), ainda na sequência do desafio desta menina. A gravidez da Joana foi hiper tranquila. À parte de ter tido o privilégio de suportar o verão mais quente dos últimos não-sei-quantos anos com uma barriga de impor respeito; e, de ter começado a ter má-circulação o que me obrigou a usar meias de compressão com temperaturas sempre acima dos trinta-e-muitos graus, tudo decorreu sem problemas ou sustos. Todas as ecografias apontavam sempre a mesma data de gestação, e a mesma provável DPP, 17 de Outubro. Tudo evoluía na altura que devia ser, ou ainda mais cedo. Sempre foi assim, até às últimas semanas. A barriga tinha começado a descair cedo, mas às 37 começou a subir. As minhas ancas continuava como antes de estar grávida, ou seja não alarguei nada. O colo do útero continuava verde sem nenhum sinal de progresso. Às 38 semanas, também. Às 39 tudo na mesma. Já tínhamos posto a hipótese de fazermos indução do parto, porque eu queria a presença do médico na hora N (de nascimento). Eu, que anos antes defendia, que não havia sítio melhor para ter um bebé que na MAC, que era indiferente o médico que nos calhava, que isto e aquilo, via-me agora com uma opinião completamente diferente. Para mim agora a confiança no local e no médico, um serviço de neonatologia capaz e com provas dadas, e a presença do pai o máximo de tempo possível antes e depois, eram essenciais (esta última "menos importante" mas também a ter em conta). Às 39 semanas, o médico, disse-me que achava que o parto não iria ser vaginal. Pela subida da Joana e do estado do meu colo do útero, tudo dava a entender que ela não estava a conseguir encaixar por algum motivo. Isto queria dizer que a cesariana estava a ganhar terreno. Eu própria nunca senti que o parto estivesse para breve. A única sensação diferente que tinha sentido até aí eram mesmo aquelas contracções sem dor, que deixam a barriga muito dura e esticada. De resto estava tudo na mesma. Quem conhece este médico, sabe que ele não opta por uma cesariana de ânimo leve. E ele também sabia a minha vontade de ter um parto vaginal. Não queria cesariana nem por nada. Na opinião dele, eu iria chegar às 41 semanas, e com poucas diferenças sobre o estado actual. Optámos pela indução no dia 12 de Outubro. Esta data já tinha sido posta como hipótese uns meses antes quando falámos na hipótese de indução. Se eu não entrasse em trabalho de parto naturalmente antes disso, esta era uma boa data. Já teria 39 semanas e o médico estaria de serviço 24 horas, o que significava que mesmo que o trabalho de parto se prolongasse demasiado, ele estaria presente. No entanto, a data esteve sempre pendente, do estado da gravidez na altura. No dia 10 de Outubro, dia em que completava as 39 semanas, na minha última consulta de obstetrícia, o quadro não era animador. Essa sexta-feira foi o meu último dia de trabalho. Preparei a mala da maternidade (ainda não a tinha chegado a fazer realmente, porque nunca me senti na eminência de ter a Joana). Tomei o comprimido que iniciava o trabalho de parto no sábado à noite e por volta das quatro da manhã, comecei com umas moinhas muito incómodas. Levantei-me e preparei um banho de imersão com água tépida. O calor aliviou-me durante um tempo mas depressa deixou de fazer efeito. Vesti-me, confirmei se tinha tudo pronto, e andei literalmente às voltas pela casa até às sete horas. Fui acordar o António (que não deu por nada até aí). Às vinte para as oito, saímos de casa rumo ao hospital, com uma paragem para por gasóleo (estava na reserva – típico!) e comprar os jornais do dia para guardar. Comprámos também um Noddy, para oferecer ao nosso afilhado como tendo sido a Joana a trazer (ele na altura estava a desenvolver ciúmes de mano mais velho). Quando chegámos, as contracções eram muito seguidas e eu começava a achar que afinal iria ser tudo muito rápido. Entrámos para o quarto, preparei-me e quando o médico se chegou ao pé de mim e disse “Isso ainda está atrasado! Você nem tem cara de quem vai ter um filho!” ia-o matando! :p As dores começaram a ficar cada vez mais dolorosas, mas dilatação nada! Por volta das quatro rebentaram-me as águas (com dois dedos de dilatação). As dores tornaram-se tremendas. Perdi totalmente o controle e não conseguia fazer respirações de jeito nenhum. Valeu-me a enfermeira-chefe. O António só se ria, mas julgo que eram os nervos e verdade seja dita, as piadas dele embora me irritassem ao mesmo tempo descontraíam-me! Às seis, não aguentava as dores (as contracções eram de expulsão) e tinha quatro dedos de dilatação. Deram-me um cheirinho de epidural. Acalmei e às sete tinha seis dedos de dilatação. “Se continuar assim, estamos safos, se não, temos mesmo de fazer a cesariana”, disse o médico com um ar pesado. Eu só pedia, cesariana não! Ficou de voltar às dez horas para avaliar o progresso. Esta parte do trabalho de parto foi toda passada deitada sobre o meu lado direito, porque a Joana entrava em sofrimento se eu adoptasse qualquer outra posição. Fui levando uns reforços ligeiros de epidural para me aguentar e não travar o processo de dilatação, mas quando perto das dez horas, a epidural perdia o efeito, decidi armar-me em forte e esperar pelo médico. O médico só voltou quase às onze e eu já começava a subir paredes. Tinha os mesmos seis dedos de dilatação. Ele apoia-me a mão no ombro, e diz: eu sei que não quer, mas vai ter mesmo de ser. Nessa altura o que eu queria mesmo era acabar com aquilo, por isso se tinha de ser cesariana que fosse, mas que acabassem com estas dores o mais rapidamente possível. Já estava a atingir o meu limite. Queria que ela saísse, fosse lá por onde fosse! Fui para o bloco operatório e o António para a sala ao lado, onde tratam os bebés assim que nascem. A anestesista era uma querida, sempre com palavras tranquilizantes. O médico ia brincando comigo como era hábito, mas eu só tinha era frio e queria era ver tudo despachado. Tremia violentamente em cima daquela mesa dura. Tanto tinha sede, como queria vomitar. Não via hora de tudo acabar. Eram 00h02 (ou 23h59 segundo o pai) quando se ouviu um choro potente! Depois de a ouvir, e saber que estava óptima, só me preocupei com a recolha do sangue umbilical. Quando imaginava o meu parto, imaginava-me a espreitá-la a sair de mim, a pedir para cortar o cordão umbilical, a encostá-la ainda nua sobre o meu colo. No entanto, o que realmente aconteceu, foi que não tinha força nem para virar os olhos na direcção dela. Nunca mais vou esquecer a primeira vez que a vi. A imagem está gravada, com protecção anti-erase na minha memória. Nesse momento, soube que era impossível não reconhecê-la mesmo que estivesse no meio de mil crianças. Quando a levaram adormeci. Não dei conta de mais nada. Fui vencida pelo cansaço. A Joana acabou por nascer dia 13 de Outubro, com 39 semanas e 3 dias. Até para nascer, ela quis deixar a sua marca, ao não aceitar a data de nascimento que lhe tinha sido imposta. O motivo pelo qual ela não ia descer, devia-se ao facto de estar completamente enrolada no cordão umbilical. Pernas, braços, pescoço tudo envolvido em cordão. Fosse induzido ou não, o desfecho seria sempre a cesariana porque ela já não se ia conseguir desembaraçar. Pode não ser o parto dos sonhos de ninguém, não era de certeza o meu, mas sinceramente, todas as decisões foram tomadas de forma muito consciente e informada. Não optei pela indução só porque achei piada ao dia, até porque aguentava perfeitamente mais duas semanas de gravidez, e mesmo que quisesse o médico comigo, havia mais dias em que ele estava de serviço. Fi-lo porque a experiência do médico assim o aconselhou. Fi-lo porque é nele que confio mais do que noutra pessoa qualquer, ou não seria ele o meu médico há tantos anos. Para o que se segue, não queria estas horas todas de sofrimento. Queria experimentar um parto vaginal. Queria o famoso parir-de-gata! Mas se o meu corpo voltar a não colaborar, vou aceitar a cesariana de forma muito mais tranquila. E mesmo que este não tenha sido um filme bonito, foi definitivamente um dos filmes da minha vida, e o único que não trocava por nada nesta vida até este momento. (E com este parto, merecia mesmo o pós-parto santo que tive ;) hehehehe) PS: A Joana não nasceu na MAC.

24 comentários:

carla disse...

Foi um filme bonito com um final feliz, de uma família linda!!!!

Beijocas

Carla Yu disse...

Eu de partos percebo pouco, apenas os da irmã e daqueles que vou acompanhando por aqui.

Não consigo imaginar como foi, mas consegui perceber a complicação e a indecisão.

Felizmente tudo acabou bem e tens uma menina muito linda contigo (que é mais velha que o meu sobrinho 4 dias). E agora cheira-me que vem aí um rapazote... ehehe

Beijocas

Ana Rangel disse...

Posso ler os teus relatos mil vezes... vou sempre deitar uma lagriminha. (quando li o primeiro nem estava grávida, por isso não são hormonas) :)

O que interessa mesmo é que nasçam bem e com saúde, né? ;)

Beijinhos!

Raquel disse...

Os relatos de partos deixam-me sempre emocionada. Deve ter sido bastante complicado aguentar tantas contrações sem epidural...
Mas no fim o desfecho foi muito bom, e concerteza passavas por tudo outra vez se fosse preciso para a tua filha nascer bem.
Que o parto deste bebé seja melhor, e se não for que tenha o mesmo desfecho maravilhoso...
Um beijinho grande!

Margarida disse...

O que interessa é que eles nasçam bem, perfeitos e com muita saude, a forma como vêm ao Mundo é muito relativa.
Eu tive a Catarina de cesariana, depois de 36 semanas a pensar que iria ser parto normal, aceitei a opinião do meu médico, nunca iria fazer a minha filha sofrer.
Quando engravidei da Gui, imaginei um parto vaginal a desde o inicio,
às 28 semanas a pestinha sentou-se e nunca mais se virou.
Mais uma vez confiei no meu médico, fez-me uma eco no dia em que ela nasceu só para confirmar, mas nada feito ela estava bem sentada na botija (bexiga) quentinha.
Se este bebé tiver que nascer novamente de cesariana, que seja, isso tb não interessa nada.
Ok, desculpa o testamento.

bjs

Anónimo disse...

Mais uma coisa que temos em comum. O meu parto começou por ser induzido para parto vaginal e acabou por ser cesariana. Tudo porque a Alexandra não descia. Durante a cesariana percebeu-se porquê. Tinha o cordão em redor do pescoço e conforme descia era puxada. Eu também dizia que não queria cesariana e muito menos epidural e no entanto foi o que o destino me reservou. Correu tudo tão bem que não me assusta passar pelo mesmo numa futura gravidez.

Sofia disse...

Fico sempre emocionada sempre que leio um relato de um parto. :)Desejo que próximo parto corra melhor que o primeiro e que nasça bem e com saude que é o principal.
Beijinhos
sofia

Anabela disse...

Acho que tomaste as decisões mais acertadas!
É por ouvir histórias de parto como a tua que eu acho que as pessoas não devem ter uma ideia muito rígida de como desejam o nascimento de um filho. O essencial é garantir que ele nasça sem sofrimento e com saúde. Nem que para isso tenhamos de "ir contra" os nossos desejos iniciais.
Muitos beijinhos

Anónimo disse...

Só para dizer que a minha filha nasceu a 12/10/2003, ás 0:27h, com 39s+2d (DUM 10/01/2003), de cesariana, na MAC, com esse mesmo banco de 24h (do qual a minha obstetra fazia parte), depois duma indução falhada (0cm de dilatação). Cruzámo-nos no puerpério... coincidências...

Sandra Santos

Mocas disse...

Querida Sandra

Pois eu tenho a dizer-te que achei o filme lindo! O meu parto foi relativamente rápido, mas o post-parto foi um pavor...(acho que tb vou falar dele). Uma coisa em comum: depois de o ver pela primeira vez, jamais confundiria o meu bebé entre mil :)

Beijinho

PS: o formato dos coment. está estranho :S

Anna^ disse...

Não consigo comentar....

Bjinho grande!!!

sm disse...

É engraçado com existem tantas histórias semelhantes na vida/nas gravidezes alheias, ler estes relatos de partos tem-me feito pensar nas parecenças e em redigir os meus dois partos, para mais tarde recordar, para eles mais tarde recordarem...
Eu sempre pensei exactamente o contrário: queria uma cesariana a todo o custo, os médicos achavam que nem pensar, nem mesmo por causa do “amiguinho” que arranjei para a Catarina brincar de 10cm, desde que ela tinha 8mm... que necessitaria de ser retirado 2 semanas após o parto :(, no fim apesar de já não o querer, teve mesmo que ser de cesariana e o “amiguinho” foi retirado junto com ela. Ai!! já me estou para aqui a alongar... desculpa!!! um dia conto como foi...
E sim... uma coisa é inesquecível o primeiro vislumbre que temos deles...

:))
Sandra

Mamuska disse...

Acho que a forma como queremos que os filhos nasçam, por vezes não se concretiza, mas o importante é que eles nasçam com saúde e como tu dizes deve-se sempre seguir a opinião de um especialista!
Foi um parto menos bom, mas com um post parto muito bom! :)
Beijosss

PM disse...

O que mais importa é que tens uma filhota linda e saudavel!!!!
Beijocas grandes e obrigada por partilhares estes momentos magicos!!!
Espero que o partilhes no grupo também!!!

guga2004 disse...

Estou a ver que todas desataram a contar os partos e vou ter de fazer o mesmo, eh,eh,eh.

bjs e que o próximo corra também muito bem

Sandra

Paula disse...

Olá,

Eu já tinha lido o relato soft e uma lagriminha insistiu em cair, agora com o integral cairam várias.

Que o próximo seja mais rápido mas com os mesmo amor.

Beijinhos

P.S: Já consegui colocar a barra, obrigada

Anónimo disse...

O nosso parto foi muito parecido, indução num dia e nascimento no outro. A diferença é que eu não passei dos 2 dedos...
Como sempre os teus relatos são fantásticos! beijinhos grandes

Anónimo disse...

ola Sandra,
Os meus partos foram tb de cesariana e isto porque a Ana Luísa hoje com 3 anos fez o favor de se sentar com 6 meses, mantendo-se assim até ao final da gravidez. Da Sara, hoje com 21 meses, estava tudo planeado para ser um parto normal (que eu não queria), mas às 40 semanas rebentaram as águas só que o útero mantinha-se muito fechado, muito verde segundo a médica. Após 12 horas do rebentamento das águas a médica que me examinou achou por bem ir logo para cesariana. Claro que o pós parto não foi fácil, enquanto não tiro os pontos não descanso, depois é sempre a andar... até já pensamos no 3º!!! E porque prefiro cesariana? Simplesmente porque passei por um aborto antes da minha primeira filha e foi terrível.
Ainda assim, tenho a certeza de que o próximo parto te vai correr bem, basta o teu optimismo.
beijinhos

celia

S.A. disse...

Eu já tive os dois. O primeiro cesariana e o 2º vaginal. (dos pós nem falo... )e continuo a dizer q prefiro o 2º... é assim "qualquer coisa de especial".
Espero que tb tenhas a mesma "sorte" que eu!

Bjkas!

Miragem disse...

Só te posso agradecer pela partilha.
Beijos

XanaA. disse...

Tinha comentado no post do pós-parto, mas parece que o comentário não ficou (não sei se será do word verification ou falta de atenção da minha parte, mas tem-me acontecido muito).

Bem, dizia eu que gostei muito de ler esse post, assim cono gostei de ler este, agora.

Espero que tudo corra bem da segunda vez:)

Aproveito para (re)dizer que visito todos os dias o teu blog, embora nem sempre comente. Mas leio tudo do início ao fim :) e gosto bastante.

Bjs grandes

InêsN disse...

muita gente me pergunta porque é que o meu parto foi induzido às 40 semanas certas e não mais tarde...a resposta que eu dou é a que tu dás: porque a médica assim o decidiu, considerando o melhor para o bébé!
felizmente consegui ter um parto vaginal mas a hipótese de uma cesariana também foi colocada dada a demora da porra da dilatação!
Que o próximo parto te traga o filme que tu queres ver ;o)

AnaBond disse...

pois bem... não sei o que hei-de dizer... até porque já sei disto tudo :)

mais uma vez, acredito que só queremos o melhor para eles. e isso é o que importa.

beijo

Licas disse...

Oh! Que recordações fantásticas. Do parto da Inês eu também dizia que queria parto normal. Se era o melhor para ela, também havia de o ser para mim. Fiz 3 induções, sempre para parto normal, porque a médica que me viu no hospital dizia que o meu colo estava excelente para induzir, praticamente apagado. Mas das 3 induções nenhum resultou. Nem um dedo a mais de dilatação além do que já tinha, nem nenhuma contracção. Só muita ansiedade, nessa altura. Até que o médico que entretanto apareceu com a primeira médica disse que não ia arriscar, por ter medo que a Inês ficasse "entalada". E foi a melhor coisa que nos podia ter acontecido porque durante a cesariana vieram a descobrir que a bebé tinha um nó verdadeiro no cordão. Se fosse parto normal não sei o que teria acontecido. Temos alguém lá em cima a olhar por nós.
Desculpa-me a extensão.
1 bjx, licas