quarta-feira, maio 23, 2007
Empresas Familiarmente Responsáveis
(em jeito de resposta a um comentário)
Eu trabalho nesta empresa há praticamente treze anos. Há treze anos, era tudo muito diferente do que é agora, como é natural. A empresa, embora de grande dimensão, mantinha um não-sei-quê de familiar.
Na altura os "mais novos" eram, na sua maioria, familiares dos "mais velhos". Eu vim aqui parar, sem conhecer ninguém, respondendo a um anúncio que nem sequer identificava a empresa, e passando por uma fase de entrevistas e provas como é habitual numa candidatura a um emprego.
Na minha vida respondi unicamente a dois anúncios de emprego, por sinal seleccionados do mesmo jornal. Respondi aos dois, com duas cartas impressas, uma a seguir à outra, na minha impressora de vinte e uma agulhas. Essas cartas que entraram juntas no marco dos correios, resultaram em coisas distintas. De uma nunca obtive resposta, a outra trouxe-me até onde estou agora.
Quando aqui cheguei, a primeira pergunta que me faziam era "Então és filha de quem?". Inventaram-me ligações familiares com duas ou três pessoas, e uma senhora chegou a disparar um: Ai que crescida que estás! És mesmo a cara do teu pai! - e quando ela diz pai, leia-se chefe - Lembro-me tão bem quando eras pequenina! - rindo para o meu chefe - ou seja, suposto pai - e agarrando-se a mim.
Enfim, havia muita gente à beira da reforma e foram os mais velhos que me levaram em visitas guiadas pela empresa, que me ofereciam os seus préstimos por mais do que uma vez e que me ensinaram muitas coisa, sendo que muitas delas, tinham já os dias contados por existirem novas a tomarem os seus lugares. Eu estava aqui, justamente, para colaborar na implementação de uma delas. Entre os mais novos havia um bom ambiente (esquecendo as picardias que existem em todo o lado) e alguns tornaram-se amigos.
Sempre trabalhei no mesmo edifício, na mesma secção - renomeada já por três vezes - e com o mesmo chefe, desde que aqui entrei. Conheço praticamente todas as pessoas daqui - exceptuando os mais recentes que já não consigo associar a nenhuma área - e a maioria também sabe quem eu sou - incluindo o meu nome, o que muito me envergonha porque se há coisa que me é particularmente difícil é associar uma cara a um nome.
Continuando, isto tudo para dizer que a minha empresa sempre teve algo de familiar.
Agora está um pouco diferente. As ligações familiares entre funcionários foram-se perdendo. As actuais mudanças na estrutura da empresa e as reduções drásticas de pessoal têm deixado um clima tenso por todas as secções. Há muita indefinição no futuro, e a única certeza que se tem, é que melhor do que temos agora (especialmente a nível de regalias) não fica. Em boa verdade esta é a segunda vez que vivo um clima assim desde que cá estou, mas este é definitivamente aquele que está a mexer mais comigo.
Quando me perguntam se esta empresa é familiarmente responsável eu não consigo responder nem um sim tranquilo, nem um não convencido.
Há certas áreas da empresa que se preocupam com o bem-estar do trabalhador e respectivos filhos. Há respeito pelos direitos garantidos na lei. E o meu chefe, ele próprio pai de três filhos, é sensível aos nossos problemas.
Isso é positivo. Mas depois há muitas coisas que, a meu ver, não permitem que se lhe atribua o título de empresa familiarmente responsável.
Se por exemplo nunca me pressionaram para abdicar de um direito, sofro na pele, as consequências da minha maternidade. Já para não falar do esquecimento de tudo o que dei e do que abdiquei no passado pelo trabalho.
Por isso, a minha empresa fica assim num limbo. Tem coisas boas e coisas más. Mas continua a ser, a meu ver e de uma forma geral, uma boa empresa para se trabalhar.
Resta é saber por quanto tempo mais.
16 comentários:
De tudo o que li, acho que és (ainda e laboralmente falando) uma mulher de sorte. Espero que por muitos anos mais!
bjs!
Mocas
Bem miga eu tb faço parte ou fazia parte (nem sei muito bem com fusões e desfusões o que dizer) de um grande grupo e tb com cariz familiar... E como empresa grande que é há um misto de tudo, algumas pessoas que são porreiras e outras nem por isso... As vezes tenho algumas picardias com o meu chefe, mas olhando bem ao meu redor vejo que até tenho certas regalias que valem muito dinheiro... Estar perto do meu pipmpolho, poder almoçar com ele, ter um horário de escritório apesar da minha profissão ter algumas coisas fora-de-hora, e estou pertissimo de casa sem stress de trânsito e filas...
POr isso às vezes resmungo, mas o balamnço é positivo... embora as vezes o ambiente é um pouco complicado e tenso...
Beijocas grandes para vsc
Mesmo que por tempo indefinido ( e quem não está nessa situação hoje ?) é excelente e muito pouco usual uma empresa que disponobiliza médicos para o pessoal e que permite que os filhos ( ainda que para ir ao médico ) estejam no escritório com os pais. Eu particularmente não tenho nada disso, nem para mim, quanto mais para a minha filha e não conheço nenhum caso de nenhuma empresa assim. É de facto uma grande sorte ;).
Qto a trazer a Bia para cá, para além do facto de não conseguir fazer nada, só em último reduto recorreria a essa opção e mesmo assim teria o escárnio do patrão. Para mim isso é impensável, visitas ao pessoal do escritório com a pikena, só se eu estiver de férias e como de férias não quero nem ouvir falar da empresa, só vêm a miuda por fotos, lol :)
realmente, apesar de tudo, acho que tens muita sorte...
a empresa onde trabalho de familiar não tem nada... de amiga das famílias... mais ou menos... numas coisas sim, noutras nem por isso...
enfim, nos tempos que correm ter um emprego que não seja a recibos verdes já me parece um achado, portanto cá se vai aguentando...
Já é raro mesmo com esses pequeninos "senão" existirem empresas assim. Mas ainda bem que existem.
Caramba tiraste-me as palavras da boca! :op
Tirando alguns pormenores é muito muito parecido. Principalmnente como já deves ter percebido aquela parte das consequencias da maternidade e do esquecimento de tudo o que já dei pelo trabalho.
Achei graça a te porem como filha do chefe:o) ... e a cara da senhora quando percebeu que estava redondamente enganada?!?!
Onde eu trabalho também é mto familiar, os que não são da família estão lá desde sempre. Tirando eu, claro, que só tenho quase 1 ano de casa.
Ainda não percebi se é bom ou mau, empresas assim, pelo menos aquela... um dia destes devo chegar a uma conclusão...
rosinha, ainda me lembro como se fosse ontem!
Depois de se enterrar cada vez mais a cada palavra dita, quando finalmente o meu chefe lhe diz que não era filha dele, ela corou que nem um tomate e fingiu que já sabia e que se estava a meter connosco... pois! lol
(quanto às repercurssões da maternidade... isso é um outro post ;) )
Mas tu trabalhas aqui comigo ou quê?? lol
Excepto a parte das relações familiares entre empregados e a do issue maternidade é em tudo muito semelhante.
Beijocas
Realmente há pessoas com muita sorte. Eu já achava que ter um emprego onde se sai às 13h é ter sorte, ter um emprego que tem médicos, mais especificamente pediatras é ter mesmo muita sorte para já não falar de poder levar os seus filhos sem ter olhares criticos. Nem parece que é um trabalho em Portugal. Realmente nunca tinha ouvido falar de um emprego assim, nem sabia que existiam. A minha realidade é mesmo muito diferente. Muito bom mesmo e que continue.
MLuís
Obrigada pela honra de o meu comentário ter gerado um post explicativo. Concordo com a anónima ali de cima (deve ser afinidade de categoria já que também eu sou anónima). Aqui para os meus lados há médico do trabalho e pronto ... Pediatra do trabalho, o que é isso? Mais um comentário para dizer o seguinte: as empresas só ganham com este tipo de posturas como aquelas que a Sandra descreve. As Mães perdem menos tempo em voltas com filhos doentes. Beijinhos. Maria João
Podia, muito bem copiar o teu post e coloca-lo no meu blog com aminha assinatura, que quem conhece o sitio, onde trabalho, não diria que tinha sido copiado...
Neste momento, não sei se gosto de aqui estar ou não...mas acho que o facto de aqui estar à 12 anos também pesa muito...
Bjos
Sil
É uma pena não existirem mais empresas assim.
Podes sentir-te feliz por isso.
MLuís, olhe que sair às 13h é bom mas já acabou :p
Mas é verdade, infelizmente há poucas empresas onde se pode respeitar o horário de trabalho, e menos ainda que nos permitam algumas coisas como a que eu trabalho.
Devia haver mais assim, mas parece-me que o que está a acontecer é mesmo o oposto!
Maria João, eu ia responder em comentário, mas às tantas pareceu-me que a resposta já merecia mesmo outra atenção :)
sil, estou como tu no que diz respeito ao gosto... enfim.
Beijinhos a todas
Ola Sandra, pelo que me recordo conseguiste ser PROMOVIDA quando estavas ainda em licença de Maternidade.... afinal, nao "pesou" assim tanto, a maternidade. Nao compreendi essa parte.
FELICIDADES!
Analsa, sim é verdade, mas julga mesmo que é apenas com dinheiro que nos podem diferenciar a nível de trabalho?!
Além disso, nem tudo aqui é para ser compreendido, especialmente por esta via dos blogs.
Um beijinho
Enviar um comentário