quarta-feira, abril 20, 2005
Mães meninas...
Esta mãe maravilhosa com o seu texto "A magia do tempo", fez-me relembrar algo a que assisti esta semana.
Segunda-feira depois do trabalho, fui como é hábito comprar pão e leite ao supermercado. Segunda-feira até foi um dia que esteve uma temperatura agradável e não convidava o uso de casacos quentes. Foi por isso que reparei nela. Uma menina. Com 16, 17 anos no máximo. Com um blusão fechado até cima e mãos nos bolsos o tempo inteiro.
Fez-me confusão. Pensei «outra engripada como eu...», mas não. O meu olhar percorre-a e pára na barriga. Parece-me proeminente. «Estará grávida? Não! Deve ser de ter as mãos nos bolsos.» Faço o mesmo percurso que ela durante algum tempo e ficamos na fila da caixa para pagar. Eu numa e ela na imediatamente a seguir.
Para ajudar a mãe dela a arrumar os sacos, lá tira as mãos dos bolsos. Aquele volume mantivesse e não era ar. Estava mesmo grávida. O blusão era uma tentativa de esconder aquela gravidez, denunciada para o olhar com que ela percorria o espaço a ver se alguém a estava a observar.
Saíram. Fiquei a pensar «tão novinha... espero que tenha sorte e apoio daquela mãe.»
Sai um pouco depois delas. Elas estavam no multibanco à saída. Ao mesmo tempo que passava por elas duas miúdas que iam um pouco mais em frente comentavam uma com a outra «vês não te dizia... está de barriga!!! bsh bsh bsh» eu olhei de novo para esta menina, que depois de seguir as outras com o olhar, levou os olhos ao chão como que a tentar esconder-se de todos. A desistir.
Ela deve, ou devia, de ser aluna da escola secundária ao lado do supermercado. Estava ali a uma hora em que saem a maior parte dos alunos. Devia apetecer-lhe estar em todo o lado menos ali.
Fiquei a pensar. Com aquela atitude já deve ter desistido de ir à escola. Sentia-se a vergonha nos olhos dela. O que podemos nós fazer para as ajudar? O que podemos nós fazer para evitar que alguém passe por isso?
Não sei. Sei que simplesmente a culpa não é só daquela menina. Não se pode dizer apenas que ela devia ter tido mais cuidado. E agora que o "mal" está feito? Quantas não se vêem sem apoio da família. Quantas não são obrigadas a enfrentar tudo sem ajuda?
E é assim que eu estou agora. A pensar nestas meninas que por algum motivo menos por magia se vão tornar mães. E algumas muito boas mães como é prova viva a mãe maravilhosa que mencionei no inicio do post.
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