segunda-feira, junho 25, 2007

Já o acabei...

fiz batota e li-o também antes de me deitar. Era impossível não o ler de uma assentada. O que lá estava era como se fosse um bocado da minha vida.

No dia 9 de Dezembro de 2001, não conseguimos sair do Sabugueiro sem trazer connosco uma bolinha de pêlo com menos de dois meses. Da ninhada restavam três cadelas e dois machos. Nós decidimo-nos por um macho e quando nos aproximámos da gaiola onde estavam aquelas bolinhas de pêlo cheias de energia e olhos de mel, percebemos que era impossível escolher um dos dois que nos indicaram. Decidi estender a minha mão. Todos, machos e fémeas, se chegaram para trás à excepção de um, que correu por cima dos outros para me lamber a mão furiosamente. Não escolhemos, fomos pura e simplesmente escolhidos.

Foi prontamente baptizado. Uns anos antes, ainda namorados, tínhamos passado um fim-de-semana na Serra com amigos. Passávamos o tempo a cantar que nem uns perdidos e a The roof is on fire, dos Bloodhound Gang, foi um dos pontos altos dos nossos devaneios líricos. Um Serra da Estrela de peluche que ele me tinha oferecido como lembrança, foi, no calor do refrão, baptizado como Rufus. O estarmos ali com os mesmos amigos, e a memória desse momento, tornou a escolha do nome uma tarefa fácil de cumprir. Rufus, assentava-lhe que nem uma luva. Esses amigos tornaram-se os padrinhos do nosso primeiro cão e da nossa primeira filha.

A viagem de regresso foi uma das mais longas de que tenho memória. Ele ia comodamente enrolado em si próprio, numa caixa de cartão, entre o banco do condutor e o banco traseiro. No banco de trás, ia ainda o nosso afilhado de três anos cujo o único objectivo era livrar-se do cinto da cadeirinha para ir ter com aquele peluche que parecia ter vontade própria.

Logo na primeira viagem, o Rufus decidiu mostrar-nos como seriam as viagens a partir dali e não parou de vomitar o caminho todo. Vomitou tanto ou tão pouco, que às tantas duvidámos que ele sobrevivesse à viagem. A meio do caminho, ainda houve tempo para o nosso afilhado, abrir uma garrafa de água de litro e meio (cheia) e virá-la sobre a criatura, que na opinião dele já estava para lá do sequioso.

A verdade, é que resistiu à viagem e as nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Ele foi o nosso treino para a maternidade/paternidade. Ele preparou-nos para as noites sem dormir, para o desfralde, para os olhares que pedem socorro durante as vacinas, para as asneiras e para os acidentes. Ele preparou-nos para esse amor incondicional que não se imagina sentir por alguém, muito menos que alguém o sinta em relação a nós. Preparou-nos para os apertos de coração que esse tipo de amor traz como bónus.

São tantas as histórias que tenho para contar, são tantas as memórias. Podia contar a vez que comprei o telemóvel dos meus sonhos e que ele o comeu em meia-dúzia de dentadas. Que o primeiro latido, foi três dias depois de aqui chegar. Podia falar da sua predilecção por roer apenas os meus pares de sapatos azuis. Que no início engordava uma média de um quilo a cada cinco dias. Que tivemos de começar a passeá-lo de bicicleta para o poder acompanhar. Que um dia tive a triste ideia de ir passear com ele sozinha, prender a trela ao guiador, e que de repente, ele atravessou-se à minha frente para perseguir um cão e me fez dar uma pirueta no ar com a bicicleta. Podia contar-vos que esse foi o último dia que o passeei dessa forma e que a bicicleta ainda aguarda por arranjo. Que as asneiras das crianças são extremamente parecidas com as dos cachorros.

O Marley & Eu, de John Grogan, falou-me directamente ao coração e torna-se impossível separar o que li do que vivi.

A forma despretensiosa da escrita, o humor sempre presente, os sentimentos que ele nos passa em cada frase, os dramas e as alegrias, cativaram-me até ao último ponto final. Embora não tenha chorado quando calculo que a maioria das pessoas que o confessou o tenha feito, ri-me com vontade em todos os outros momentos. Para mim, é um livro que não deve ficar por ler, especialmente para quem já teve ou tem um cão como amigo.

31 comentários:

Mocas disse...

ai Sandra, era um dos livros que tinha na "calha" para o Verão. Infelizmente acho que não vou ter coragem de o ler tão cedo.

um beijinho

mocas

Ana Rangel disse...

O Rufus é um cão muito meigo, apesar do seu tamanhão meter respeito! :)

Gui disse...

Eu li! E adorei. Eu ive um Serra da Estrela assim mesmo parecido com o Rufus. Pelo curto e preto, olhos de gente. O Mondego. Veio para casa quando a minha mãe ficou grávida do meu irmão, tinha eu ainda 9 anos. Foi o meu grande companheiro, eu fui a escolhida dele. Morreu 5 anos depois, acompanhei-o até ao último minuto de vida. E sabe Deus a falta que ele me faz e como me custou. Um mês depois regressamos à Serra da Estrela e viemos de lá com um peludinho amarelo. O Serafim também me escolheu a mim. No meio dos que lá estavam saltava efusivamente aos meus pés. Agora está enorme, dá cabo da relva, das flores, faz buracos, não assusta os gatos (como o meu pai tanto queria) e ladra imenso ao portão. Mas ao fim do dia deita-se do lado de fora do meu quarto ou no do meu irmão e fica assim toda a noite a vigiar-nos o sono. E de manhã somos brindados com umas lambidelas de bons dias. Não imagino a minha vida sem um cão. Beijinhos grandes!

Eu disse...

Tinhas de o acabar ontem...
Os relatos que li aqui de ti e do Rufos, mais parecia uma "extensão" do Livro...

Mary disse...

Vale a pena ler, já o li assim que foi editado e adorei.

Tudo o que descreveste por aqui é verdade, é um amor que se cria como se fosse um membro da familia,

Beijos

alma disse...

E deixaste-me cheiinha de vontade de o ler tb!!!!!!!!!!!
BEIJINHOS ENORMES
cate

Rita disse...

Fiquei com vontade de ler!!!

Ana Pessoa disse...

não imaginas como me revejo nas palavras daquele livro (com a excepção de que eu tenho um rotweiller cruzado de doberman)

e nas tuas... e nos festivais que foi levar (no antes marido) aquela criatura à rua...

xxx

A

Mikas disse...

É um livro lindissimo que não serve para ficar na estante. E eu também o li de uma assentada, porque é demasiado cativante para se parar. *

Maria disse...

ohhhh vou ter que comprar para ler nas férias... é que eu também tenho uma Golden Retriever, é uma grandessisssima maluca, é o que ela é. tenho uma mesa de cozinha prestes a aterrar no chão à conta das suas dentadinhas na madeira, adora passear-se na rua, mas ainda não percebeu para que serve isso e nos primeiros meses de vida comia desarvoradamente, aliás comia o dela e o do outro... Nome?? Stormy (tempestuosa), baptizada pela dona, a minha filha, um dia destes coloco no blog uma foto das duas no dia em que se conheceram.

Margarida disse...

Adorei a tua descrição e já está na lista para a próxima compra.
Tb tenho uma cadela, cruzada de Pointer. Foi mal tratada e abondonada por um dono caçador, sem escrupulos...é um doce de cadela, mas não pode ver pássaros... se não estiver de trela ninguém a apanha...
Bjs
E como está o Miguel?? Melhorzinho, espero!

Sofia Caeiro disse...

Eu já vou no terceiro cão, e não imagino a minha vida sem eles. Quando li o Marley & Eu, também foi de uma assentada só, adorei o livro, ri-me que nem uma perdida e chorei muito no fim...relata bem o amor e carinho que se sente por aqueles seres (lindos)de quatro patas!

akombi disse...

Um texto muito bem escrito, sim senhora parabéns.

Cá em casa anda-se mais nas literaturas infantis, “ Rosa minha irmã Rosa” que todas as noites se lê um pouco e todas as noites as miúdas dizem “ ó mãe gostava tanto de ter aqui um bebé, um mano era boa ideia não era? Com aquele ar como se estivessem a pedir um chupa.

Depois há os 4 livros da “bruxa cartucha”

http://html.editorial-caminho.pt/show_produto__q1obj_--_3D36079__--_3D_area_--_3Dcatalogo__q236__q30__q41__q5.htm

que a V. anda a “devorar”, mas de vez em quando lá tenho que dar uma ajudinha,fico entusiasmada e dou por mim a lê-los

E por último o livro “ A mansão de Thurston” de Danielle Steel , que foi começado e nunca mais o termino, volte e meia lá lhe sacudo o pó.

Agora deves de ter ficado a pensar, " o que é que isto me interessa?"......deu-me vontade de escrever....bom vou até ao meu blog

Até já
isabel

Jolie disse...

interessa pois Isabel :)

beijinhos a todos

Ana Silva disse...

Também li e adorei, fiquei completamente fascinada e adorei o teu post.
beijokas

Rita disse...

:) Os canitos são do melhor que há. Também para nós eles foram O grande treino para a maternidade/paternidade. E quanto às asneiras... comer telemóveis, roer sapatos que as amigas nos tinhamemprestado, comer parede, rodapés... podia estar aqui até amanhã!!

Fitinha Azul disse...

Também gostei bastante, e esta tua ideia de falar sobre os livros que vais lendo é uma óptima ideia, dá-me boas dicas para as minhas compras;)

Anónimo disse...

Como esse livro me emocionou, nem imaginas.
Realmente o cão é o melhor amigo do Homem.

Mimi disse...

Comecei a ler o teu blogue através da Cláudia de "O Meu Primeiro Bebé" e gosto muito da forma como escreves e das dicas de leitura que vais deixando. Há pouco tempo é que descobri que até já vos tinha pedido dicas sobre os blogues, no vosso Templates e Designs eh eh, até o tenho na minha lista de blogues.

Quanto aos canitos, creio que consigo perceber essa relação tão especial que descreves neste post, pois cresci com cães e gosto muito deles. Há alguns meses atrás sofri com a perda de uma cadelinha que já tinha 16 anos e nem consigo, nem tão pouco quero imaginar, o sofrimento que vai ser quando a cadela mais mimada do mundo e lá de casa partir...

Bjs.

tomodoro disse...

Já está na fila de espera para ser lido, assim que termine os exames.

E sim, compreendo-te. Tenho dois cães. E sei o que é isso tudo que disseste. Sei o que é a aflição de os ver doentes e não saber o que têm, sei o que é o amor que sentem por nós, os mimos que nos dão e nos pedem, os disparates que fazem q me dão vontade de os espancar e mais aqueles que me dão vontade de rir.

Às vezes penso: no dia que eles se forem, eu vou um bocadinho com eles.

Margarida Atheling disse...

:)

Muito bom texto!

Acho que não o vou ler ainda.
Lembra-me tanto o meu que perdi. Ainda lhe sinto tanto a falta!

Bjs!

Zuza disse...

eh pá tb tenho uma bola de pêlo do sabugueiro!!! mas dei ao meu pai de prenda de anos que eu sou mais boxers. Dos que fazem au au (ai que piada tão parva. Sorry)

Malena disse...

Também vou levar esse livro para ler nas férias, e sem o ler acho que o vou adorar.
beijocas
Malena

nelsonmateus disse...

o k este &%$&%$&% m fez correr no dia do baptizado ... :P

Mu disse...

Na mesma onda, uma sugestão para uma próxima leitura: "Cão commo nós", Manuel Alegre.

Anónimo disse...

Também tenho um cão, vai ser operado esta semana, e vou andar em stress... É um companheiro do coração, adoro.o muito!
Vou ter que comprar esse livro!

Beijinho*

T disse...

Tenho saudades de ter cão... Mts...

Sandra, eu simplesmente... disse...

Que lindo!!! Até me emocionei, lol!!! Bem diz o amaro que sou uma vidrinhos...
Jocas grandes para vcs

Licas disse...

Por estes lados ainda anda tudo em fase de ressaca. Apesar de ter sido há quase um ano que o nosso serra (gu para a Inês) nos deixou, para nós parece que foi ontem. Daquilo que conheço desta raça fabulosa cada vez percebo menos porque são considerados raças perigosas.
1 bjx

Unknown disse...

O Rufus é grandão mas está como o da minha Mãe (que pesa 40Kg): tem um ar super meigo e "bananão" hehe
Adoro animais, AMO cães e acho que vou ler esse livro ;)
Beijocas
(AH! e é lindo, lindo esse amigão de 4 patas)

Samantha Gemellaro disse...

Ahhh... estava passeando por aí e encontrei vcs! Tão logo com este post maravilhoso que me encheu os olhos de lágrimas!! Como sinto falta do meu pequeno Pitt, um pintcher bem pequenino e bem abusado!!
Sinto muita falta de um cãozinho, mas pretendo ter a minha casinha primeiro... morar com a sogra nos tira algumas regalias... rsrs
EStarei sempre aqui!
Uma beijoca grande!