Depois de ouvir esta notícia hoje de manhã, e de me recordar o que vivi há doze anos atrás, a conclusão a que chego é que eu sou culpada por parte do grande buraco orçamental.Eu tinha escrito isto ontem, mas deixei em banho Maria porque escrevi de rajada e nem sempre digo bem o que quero nessas situações. Eu até tenho uma opinião formada sobre o mau uso de alguns recursos por parte dos médicos e dos utentes do SNS. Eu até tenho opinião formada sobre outras coisas importantes relacionadas com os jogos psicológicos que fazem sobre doentes e familiares de doenças terminais, mas não vou por aí. Porque o que escrevi ontem, é mesmo o que eu quero dizer sobre esta medida.
A minha mãe viveu três anos, quando não era expectável viver mais do que alguns meses, tendo feito nesse tempo alguns tratamentos experimentais caríssimos - que por acaso até a iam matando mais cedo - cirurgias, quimioterapias, radioterapias, etc etc etc.
Fez tudo no IPO de Lisboa, consoante o proposto pelos médicos, sempre a contrariar expetativas e taxas de sobrevivência, sempre a mostrar que estava ali para lutar uma guerra e vencer batalha a batalha.
Não venceu, mas conseguiu ver-me a definir o futuro com o homem que hoje é meu marido (e por quinze dias apenas não nos viu casar), viu o meu irmão prestes a concluir os seus estudos com distinção (mas foi poupada à sua perda, pelo menos isso) viu a minha irmã chegar aos treze anos (e treze é muito diferente de nove).
Desculpem sim, por ter tido a minha mãe mais dois anos e meio do que previsto. Desculpem o que a presença dela nas nossas vidas custou ao estado. E perdoem pensar que a vida humana não tem preço e que o Serviço Nacional de Saúde devia ser cego a classes sociais e influências.
Quem achar que isto é realmente uma medida equilibrada, tem dinheiro para pagar o que for preciso do seu bolso. Quem não achar que isto, mesmo podendo até parecer sensato no papel mas que, na realidade vai ter um efeito perverso, nunca passou por uma situação em que a sua vida ou a de alguém que ama dependa da decisão de outrém e não tem meios para se valer de outra forma.
E desculpem qualquer coisinha, sim.
18 comentários:
Beijo enorme, Sandra.
(assino em baixo, claro).
isto tudo.
Um abraço apertado querida Costinhas!
E concordo com tudo!
Há 6 meses rescindi contrato com o hospital onde exercia também por essa razão. Numa das últimas reuniões de serviço a que assisti falava-se que iam morrer pessoas mas que "não havia dinheiro". Eu sabia que não podia ficar bem com a minha consciência por não tratar os doentes com tudo o que necessitam e saí. Também eu perdi o meu pai com om cancro e sei o que o estado investe com doentes oncológicos mas não se pode cortar neste tipo de despesas.
Desculpa o testamento mas este é um assunto que me revolta.
Beijinhos
Paula
Um abraço forte.
A frase, que cito abaixo da notícia que linkaste, é um murro no estômago para quem só quer os seus mais uns dias, mais uns anos. Prolongar uma vida deve valer sempre qualquer gasto.
"Tudo depende do custo dos tratamentos e da avaliação de se prolongam a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos."
:(
Sandra, um grande beijinho...
Isto é uma barbaridade, estamos a falar em eutanásia isso é um crime, deixar morrer pessoas pq tem se poupar? isto é falta respeito pela vida humana, sobretudo para os doentes e suas familias tem o direito serem tratados e tem direito a viver. Andamos aqui a pagar impostos para quê? para serem cortados direitos a saúde e a educação? Tenho vergonha no Pais que vivo, cada vez apetece-me ir pais diferente aonde page os meus impostos, e não seja negado os meus direitos. Coitado quem não tem saúde e dinheiro, está condenado.
bjos
PS: Força Sandra, compreendo o que sentes com isto tudo.
bjos
Minha querida, eu nem queria acreditar quando ouvi... eu acho que, agora sim, este mundo está perdido.
Beijinh grande e um abraço apertado.
Só penso onde é que isto vai parar... Medo, muito... por mim, pelos meus filhos, pelos meus pais...
Beijo grande.
É certo que a saúde e o bem estar das pessoas são o mais importante mas tudo o que está a acontecer em todos os setores é incompreenssivel e receoso pelo presente e futuro, até onde vamos parar?...tenho para mim que vamos parar ainda piores que os tempos dos nossos avós e pais, mas isto sou eu que sou uma pessimista.
Um beijo grande....por aqui o meu pai numa 1ª operação que talvez lhe desse mais 3 anos de vida levou-ou já nos cuidados intensivos, serve de consolo saber que foi ele que quis a operação mesmo sabendo dos riscos, que os médicos não enganaram...mas se calhar ainda assim as 3 semanas ( mto bem tratado no curry cabral, havia uma enfermeira que o tratava com um carinho como se fosse um pai) de internamento contribuiram para o buraco!!!
Gostei MUITO de ouvir hoje o Bastonário da Ordem dos Médicos falar sobre o assunto na TSF. Tocou em todos os pontos.
Um país onde auto-estradas e mordomias são mais importantes que a vida de uns e o conforto até à morte de outros...não é um país do qual eu me posso orgulhar.
Continuemos nesta Luta, ninguem nos pode calar.
O que eles nos estão fazer? Onde isto vai parar? Uma vergonha!
Um beijo enorme em ti Sandra.
Costinhas, autorizas que eu linke este teu excelente texto no meu blog??
Naná, sim claro.
(um beijinho a todas)
Como alguem disse acima: muito medo pelo futuro dos meus filhos... e de todos nós, no fundo!
Sublinho as palavras da Inês N. Só.
Pois eu tambem nem queria acreditar quando ouvi..
Lamento muito por teres perdido pessoas tão chegadas da tua familia. Lamento por todos que estamos nas mãos "destes" assassinos.
bom restinho de domingo.......
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