O síndrome é mais que conhecido. Todo o português, mesmo o mais meiguinho e fofinho e tudo acabado em inho, quando tem um volante nas mãos transforma-se num bicho feroz. E não é bonito. Até podem dizer ah, olha que isso não é bem assim, eu não sou assim! mas no fundo, no fundo, é treta. Nós todos, a certa altura achamos que aquele sinal está muito mal colocado e como tal ignoramo-lo, ou que se caiu o vermelho então ainda podemos passar porque o verde para os outros ainda não abriu ou eles esperam um bocadinho já que estão parados, ou que o limite de velocidade nas autoestradas devia de vir acompanhado de uma legenda "excepto carros com mais de 150 cavalos e mãos tão experientes como as do sr. Jaquim", que se há espaço para parar podemos estacionar, que a fila de carros que se formou na saída que queremos está lá só para ser furada e que somos tão mais ases ao volante quanto mais à frente furarmos, que somos capazes de segurar num telemóvel, aplicar rímel, ler um livro, enviar sms, escrever um email, postar no fb ou twittar e ao mesmo tempo tomar atenção às entradas e saídas, contornar rotundas e ultrapassar velhinhas, e, que só os otários é que pagam parquímetro.
É, nós somos o máximo.
E a prova disso foi o estafermo que ontem me ia passando a ferro na passadeira só para ficar parado no semáforo dois metros à frente - os carros à minha esquerda estavam parados por causa do trânsito, e como não tinha visibilidade sobre a direita porque depois da passadeira estavam autocarros e um camião TIR, avanço até ao meio e páro para espreitar a direita antes de continuar-, que ao passar por mim e assustar-se quando repara em mim, ainda põe a cabeça de fora e diz olá com um sorriso gozão, que depois de atravessar e ao passar por ele no passeio sai do carro e dirige-se a mim num tom de quem vai pedir desculpa para quando lhe dou atenção acabar por ofender-me pois eu é que não sabia atravessar.
E fiquei parada a olhar para o homem. Porque esta ideia de que todos têm culpa menos nós, é a que prevalece na estrada. Que se alguém se mete à frente, se demora mais do que um milésimo de segundo a arrancar quando passa a verde, se alguém está na passadeira e não reparámos e não nos dá nada jeito parar, se queremos atravessar e não nos apetece ficar à espera que os carros parem efectivamente para passarmos, então é válido buzinar, reclamar, ofender e abanar a cabeça ou passar a mão à frente dos olhos enquanto olhamos enjoados para esse alguém, olhos nos olhos ou pelo espelho retrovisor ou, desaceleramos o passo só para chatear.
Será que um dia muda? Será que estamos a fazer alguma coisa para mudar isso? Ou é das tais coisas para se criticar nos outros, escrever umas balelas de vez em quando e fazer quando pensamos estar a safo dos olhos da autoridade?
6 comentários:
Tive um instrutor que me disse "Quando se está ao volante, a verdadeira personalidade vem ao de cima!" e se vires é isso que acontece! :P
beijos
É mesmo. E eu contra mim falo, já tenho dado por mim a mandar vir, dizer palavrões e ser impaciente e envergonho-me disso.
Mas também digo que a falta de civismo e de educação de muitos condutores não é só quando estão ao volante. Vejo quase todos os dias atropelos ao código da estrada feitos pelos instrutores das escolas de condução, um deles, é pararem em cima das passadeiras, ora, se quem está a aprender tem destes exemplos.
e os exemplos da própria polícia, Helena?!
enfim...
sim, das escolas à polícia, passando pelos táxis, condutotes profissionais (camiões e afins) e restante malta, é só maus exemplos... não escapa ninguém!!
parece que no carro, por nos sentirmos mais protegidos como se estivessemos dentro de um casulo, uma armadura, qq coisa, libertamo-nos das "amarras" da boa educação e do respeito e estravasamos tudo o que nos passa pela cabeça. é tipo a net - malta que na presença de outra pessoa, se contém, é educada e paciente e reservada (por medo, por vergonha, por uma questão de aparência, do ficar mal dizer o q pensa), depois vai para os blogs e arma-se do escudo fantástico de poderem assinar com "Anónimo" e é vê-los, de crista arrebitada, a provocar e ofender.
é como depois de uns copos: lá se vão as auto-restrições. conclusão: entrando num carro ficamos todos automaticamente bêbados. :P
Eu tenho pena dessas pessoas. Mesmo.
Porque um dia atropelam alguém e ficam marcados para o resto da vida.
Pessoalmente considero-me uma condutora defensiva. Não sou tótó (embora o meu marido diga que as pessoas ainda estão a sair de casa e a pensar atravessar a passadeira e eu já estou a parar), mas também não acelero para lá da conta (porque um carro tem falhas, e um pneu rebentado é só mais uma) e quando me buzinam (raro) opto por ignorar. Eu só buzino numa emrgência. Tenho também como hábito não "trancar" cruzamentos, nem estar parada em cima de passadeiras de peões.
Tudo isto porque em 18 meses assisti a 4 atropelamentos graves (alguns dele mortais na hora, outros não cheguei a saber), um quinto mais recentemente (há 4 anos) além de que morro de medo que um pneu rebente ou que um cão ou gato se atravesse no caminho quando a velocidade é excessiva.
Bem, no meio deste azar todo,aproveitei para aprender muito com os erros dos outros.
Mas, para mim, o pior condutor é aquele que transporta os filhos bebés ao colo, "porque vai só ali ao virar da esquina".
Grande testamento, desculpa :/
Bjs
CREDO!!!!!!!!!!!!!!
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