De novembro a abril morámos em apenas dois quartos de uma casa esventrada que tentávamos manter com o menos pó possível. Num quarto encaixamos cozinha, escritório, sala e casa de jantar, no outro as camas e não foram poucos os dias de inverno que ficámos apenas com acesso pela rua à wc onde nos lavávamos a nós, à louça e à comida.
Fomos vivendo estes dias com uma grande tranquilidade até ao momento em que tudo começou a seguir um caminho totalmente inesperado (por nós e até por quem nos recomendou a equipa).
Não adianta grandes pormenores. A partir de um certo momento os erros e o mau profissionalismo foram demais e tudo acabou com eles a abandonarem a obra deixando-nos a braços com uma casa inacabada e cheia de problemas (alguns muito graves, como por exemplo uma fuga de água numa parede) por resolver.
Recorremos a uma advogada para tentarmos resolver esta situação fora dos tribunais (porque desta vez, e graças às experiências que já tínhamos tido, quisemos que tudo estivesse devidamente registado para podermos usar legalmente em caso de problemas) e andámos mais de um ano enrolados em más vontades e deixa andar. Como não avançámos nada e a situação da casa ia-se degradando (além de nós próprios estarmos cada vez mais saturados com a situação). Decidimos avançar para o tribunal, já que a bem não se resolvia nada, mas foram mais uns meses a sermos enrolados por quem não esperávamos.
Hoje faz dois anos que começaram a realizar-nos um sonho que virou pesadelo. Hoje faz dois anos que vivemos numa casa em obras, com uma aproximação a cozinha que vai ganhando aqui e ali pequenos upgrades (como o dia em que voltámos a ter o forno, ou que descobrimos no ALDI uma placa de indução portátil ou comprámos uma máquina de lavar louça porque já não aguentávamos mais lavar a louça no chuveiro), sem jardim, ainda com vários problemas e longe de estar acabada mas mais casa e mais perto do sonho que tínhamos há já vários anos.
E há dias que custa olhar para isto. Há dias que nos sentimos culpados por fazer os filhos passar por isto. E custa saber que infelizmente não podemos confiar nos outros como sabemos que podem confiar em nós. E que todos à nossa volta, família, amigos, colegas, conhecidos, clientes, sofrem com o nosso desalento, têm menos de nós, e falhamos muito mais do que queremos.
E depois, sinto-me agradecida por ter gente à minha volta que nunca desistiu de nos apoiar. De perguntar como estamos. De nos oferecer um jantar quando não o podíamos preparar convenientemente. De nos cuidarem da roupa enquanto não o pudemos fazer. Sem que tivéssemos de pedir. Feito apenas pela vontade genuína de nos darem a mão num momento menos bom.
E assim do nada, descobrimos que o chão que nos parecia ter fugido dos pés afinal estava lá porque surge algo que esse sim, nos atira do abismo, que nos obrigada a relativizar, que nos relembra da importância de saber esperar, e, que nos mostra que uma casa é apenas uma casa, as coisas são apenas coisas, e que ter de continuar encher o tacho e lavar a salada no lavatório é apenas, há-de ser apenas, um contratempo temporário.
A todos os que estiveram (estão) sempre lá de uma maneira ou de outra, da forma como podiam, o meu mais profundo obrigada. Aos que têm esperado por mim, perdoado as minhas próprias falhas e percebido que se não estou é porque não conseguido estar, obrigada.
Ao país e ao sistema de justiça que temos que permite aos incumpridores se escapem, que mostra que a justiça é só para os ricos, que fazer tudo by the book é só para os parvos e que o mundo pertence é mesmo aos espertos, e, aos espertos que se aproveitam dos que neles confiam, vão-se lixar.
Aos amigos que afinal só são amigos quando a mão e os convites são estendidos na sua direção, temos pena, já foram.
Um dia destes vamos ter o nosso sonho realizado e tudo vai parecer menos mau, eu sei que a lição que tiramos desta experiência foi bem aprendida, mas se pudesse voltar atrás dois anos neste preciso momento, com o que sei hoje e pudesse fazer tudo de forma diferente, voltava. Sem qualquer sombra de dúvida.
15 comentários:
Ola Sandra, bom dia!
Nao a conheco pessoalmente-julgo que ja a vi na rua e tudo e pelo que me parece vai ao grande "dr Azevedo"- mas acompanha-a ha muitos anos no blog. Vou-lhe enviar um email mas entretanto pergunto-lhe- o que e que precisa, fazivel por uma desconhecida??
um grande beijinho,
Ines
Realmente situação mto chata Sandra, desconhecia essa situação realmente na areaconstrução civil não anda nada fácil meu melhor cliente teve fugir para frança para arranjar trabalho. tu tiveste azareco apanhares logo um picarete destes. da justiça essa minha amiga so funciona para alguns eu que diga. espero resolvas logo isso encontres alguém meta a casa habitável.
se fosses da minha zona recomendava-te uma pessoa apesar de não levar barato, é mto profissional, se algum dia tiver remodelar a minha é com ele vou ter.
bjos
Nem imagino o que será viver tanto tempo em condições que seriam suportáveis como transitórias e nunca como definitivas ou a longo prazo pelo menos.
Espero que te cruzes com pessoas de bem e que tudo se resolva o mais depressa possível.
Até lá, muita força e muita capacidade de encaixe para relativizar esta má fase.
Tudo de bom.
Sigo o blog há pouco tempo e não sabia desta vossa situação. Nem imagino como deve ser complicado, viver com crianças nessas condições, mas pode ser que eles encarem como uma aventura e que os ajude a apreciar os pequenos luxos da vida moderna. A minha família trabalha no negócio da construção e já teve de resolver muitas situaçoes deixadas por empreiteiros como estes. Pessoas que simplesmente desaparecem. Às vezes para fugir a dívidas e a processos. Uma vergonha, mas pronto.
Muita coragem e que tudo se resolva em breve.;)
beijinhos,
Diana do http://thegirlwhocouldntbeafashionista.blogspot.ie/
Tudo é uma lição de vida, tu que aprendes a encontrar os verdadeiros amigos e que agora sabes que podes contar com eles nos maus e bons momentos e os teus meninos que aprenderam que com pouco tambem se vive.
Vai chegar o dia em que vão ter de novo o conforto como merecem. Desejo que seja bem breve! (que já está mais que na altura)
Beijo grande
olha, digas o que disseres, adoro a mesinha com as cadeiras na cozinhita :) um dia vais chegar lá miuda :) um bj de força
Beijos mulher coragem!
Nem sei como aguentas[te]sem te dar uma coisinha má. Já vivi numa casa em obras, nada que se compare ao que descreves e eu já não andava bem, quanto mais isto. Espero que tudo se encarrile e que em breve possas ter tudo como sonhaste.
:(
É preciso ter muita paciência e ainda muita persistência e jogo de cintura para lidar com este tipo de adversidades e continuar a viver a vida porque o tempo não pára. Tu fizeste isto e muito mais, e é natural que tudo se vá esgotando: a paciência,a presistência e a credibilidade nos outros e até em nós. Mas tu, mais que ninguém, sabes que a vida continua, e tudo se há-de compôr com o tempo. Só posso desejar e esperar que tudo se componha o mais rápido possível.
:*
Tb foi há 2 anos que começamos uma obra, um sonho que iria dar-nos mais comforto, no nosso caso a casa tem 38 anos o marido herdou do pai e sem nunca ter tido obras de remodelação e com chuva a entrar na chaminé resolvemos restaurar o telhado, tb com o objetivo de o subir para assim fazer um espaço aberto para a casa deixar de ter tanta confusão pela falta de espaço, e sim lembro-me de nessa altura ler por aqui relatos das tuas obras, não imagina nada que tivessem esse desfecho, lamento, mas vais ver que se vai resolver e quanto á organização dou-te valor por aqui todos os dias são grandes aventuras....é que terminamos as obras do telhado mas o tal espaço não apareceu...a camera embargou e viemos a saber que a casa com licença de habitação mas sem estar inserida no loteamento nao se pode fazer alterações....do restauro do telhado se acabamos com a chuva na chaminé, acabamos até este fim de semana, estou derrotada e já estou como o marido só deitado a baixo e fazer outra mas e esta crise?!!! sei que sou uma sortuda com os tempos que vivemos não tenho despesa mensal de habitação, mas queremos sempre um pouco mais, á que acreditar, o teu dia há-de chegar até lá mta calma e pensamento positivo, e quanto ás crianças se calhar é a melhor lição que estão a ter, falo por mim, as minhas dão valor a coisas que as outras não dão :D
*
A frase mais marcante deste texto e talvez da tua/vossa aprendizagem é que as coisas são só coisas... Um dia destes está tudo bem, tudo pronto!
Nós já nos mudámos há quase 3 anos e ainda temos 2 wc por acabar e metade dos armários da cozinha. Mas é só uma casa. O conteúdo=nós está bem e feliz e é isso que importa!
:)
Até fiquei com arrepios...
Boa sorte e muita força!
Bjs
Eu fico sempre sem palavras que se possam acrescentar a tudo o que dizes ... coisas, são coisas ... beijinhos e melhor sorte! e perdoa qualquer coisa :p
É uma vergonha a nossa justiça!Beijinhos
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