ou, como a partir de uma banalidade se entala uma mãe antes do pequeno-almoço*.
De manhã, os dois no carro, sol lá fora e um brilho nos olhos dele. Passamos junto da escola dos crescidos e vemos uma turma, em plena aula de E.F., a sair da escola para correr na rua.
- olha mãe! vai ali a Mafalda?
- não sei, mas pode ir.
- na casa da Mafalda já são todos crescidos! porque é que já são todos crescidos e nós ainda não?
- porque nasceram há mais anos que vocês. na nossa daqui a uns anos também vamos ser todos, e eu vou ter saudades de quando vocês eram assim pequeninos!
- e se a Joana cresce primeiro que eu? ficas com saudades na mesma?
- a Joana vai crescer sempre primeiro que tu Miguel, porque é a mais velha.
- e quem vai ser avô primeiro, és tu ou o pai?
- vamos ser ao mesmo tempo, porque só vamos ser avós quando tu ou a mana tiverem o primeiro filho.
- quando formos crescidos.
- pois.
- porque tu não esperaste por mim para te casares?
- porque em geral, as pessoas casam primeiro antes de ter os filhos, mas não é obrigatório.
- e tu tinhas uma barriga gorda - o mesmo que barriga de grávida, para ele - quando te casaste?
- não.
- mas tu já nos tinhas na tua barriga!!!
- sim, mas eram muito pequeninos! e estavam divididos entre a mãe e o pai.
- pois eu também tenho bebés na minha pilinha. as senhoras têm os bebés pelo pipi e os senhores têm pela pilinha!
- não Miguel, os senhores não têm bebés, só as senhoras! Só que para nascer o bebé na barriga da mãe, o pai tem de por o bocadinho de bebé que tem dentro dele ao pé do bocadinho da mãe.
- e como é que fazem isso?
- o pai põe a pilinha ao pé - achei melhor aligeirar esta parte - do pipi da mãe.
- aaeeeuuuu... que nojo! - exclama no meio de uma careta - e os bocadinhos de bebé não se importam com os pelos? - pergunta ainda mais enojado - e como é que eles saem e vão ter com os da mãe?
- eles lá saem e conhecem o caminho...
e fez-se o silêncio.
ufa.
* da mãe, que a criancinha vai alimentada para a escola.