com o Dr. Mário Cordeiro não podia ter sido melhor. Aliás, poder podia, mas para isso não podiam estar na sala ao lado uma data de crianças com banhos por tomar, jantares para dar e muita (ainda) energia para gastar!
A conversa (porque foi mesmo assim) fluiu sem cansar nem perder o interesse. Organizou as perguntas que lhe foram entregues anteriormente em grupos e foi falando, num tom descontraído e despretensioso que adorei. A sua postura de simplicidade conquistou-me logo à partida.
Não nos ensinou a resolver nada (embora em alguns casos pontuais tenha apontado caminhos) mas explicou-nos o porquê, ou pelo menos a sua versão do porquê (os genes... ai os genes...). Desembrulhava problemas que parecem terríveis e insolúveis aos olhos dos pais, e apresentava-os num tom de brincadeira construindo o caminho para a sua resolução de forma simples e ajustável à realidade de cada um.
Embora não tenha chegado a falar do tema "intuição" (ficou tanta coisa por falar...) a cada minuto que passava eu sentia-me cada vez mais segura da minha. Cheguei à conclusão que a minha (pelo menos) funciona bem e que não devo ter o pudor de a admitir e de a seguir. Tenho é que dar ouvidos aquela primeira vozinha que surge e que muitas vezes não quero ouvir ou admitir.
Adorei, adorei, adorei.
No final, alguns pais ficaram para colocar algumas questões mais específicas. Eu queria colocar uma, mas o António nem por isso. Acabamos por ficar e quando chegou a nossa vez, durante a conversa o António confessou um dos seus medos. Quando chegou a casa, notei que ele estava feliz e mais seguro de si mesmo.
A minha questão era simples: A minha incapacidade de disciplinar o sono dos meus filhos no final das licenças de maternidade e consequente regresso ao trabalho. tanto um como o outro, perderam os hábitos de sono nesta altura e tornaram-se muito mais dependentes de mim. Da Joana deixei arrastar o problema tempo de mais, e do Miguel não queria fazer o mesmo. A culpa era minha disso eu tinha plena consciência, mas o porquê? O que fazer, é que eu gostava de perceber.
A explicação veio embrulhada num sorriso. Na primeira, o ser o primeiro filho e a D. Culpa juntaram forças e permitiram os acordares nocturnos sucessivos, os pedidos de mama e de proximidade. Neste, o saber que é o último bebé e como não podia deixar de ser, a D. Culpa, encarregam-se mais uma vez de tentar manter o bebé que quer deixar de o ser. Eles, que não são parvos nenhuns, aproveitam as portas abertas e conquistam o nosso reino, ficam com as chaves e passam a mandar em nós. Simples. Do mais simples que há. E verdadeiro ainda por cima.
Segundo ele, ele está numa idade chave e temos de agir o quanto antes. Aconselhou tirá-lo do nosso quarto (algo que já queria fazer, mas não tinha a certeza) e pô-lo a dormir no quarto da irmã (ainda bem porque não tenho outro! :p). Usar um peluche que ele não conheça macio e com o meu cheiro para ajudar à transição. Ser firmes e coerentes nos despertares nocturnos, assegurando-lhe que está seguro e mantendo os estímulos necessários para o adormecer no mínimo (mama, água, toque, embalo, etc.).
Não descobriu a pólvora. Não nos disse nada que não soubéssemos de antemão. Não nos deu truques que já não tivéssemos usado com a irmã. Mas, fez muito mais do que isso, falou-nos direito ao neurónio da confiança e apontou-nos o caminho.
Esta noite, o Miguel já dormiu sempre na cama dele. Esta noite, o Miguel já
só acordou à uma (e tal), às quatro (e tal), às cinco (e tal) e às seis (e meia). Esta noite já teve um sono mais profundo. Esta noite eu deitei-me com a convicção de que tudo iria correr melhor a partir daí.
[E enquanto conduzia de regresso a casa, percebi o quanto não aproveito o pediatra dos meus filhos. É que ele é assim. É prático, transmite confiança aos pais, aponta caminhos sem imposições e é claro nas explicações. O problema, é que em cada consulta acabamos por nos cingir ao mesmo... mas a próxima aposto que vai ser diferente!]
Adenda: O meu pediatra não é o dr. Mário Cordeiro. O encontro foi promovido pela escola da Joana como contei
aqui.